E ai tudo bem pessoal? Espero que sim. Hoje estamos iniciando o nosso Bate-papo de Sexta, um espaço de conversa com alguma personalidade da cena do RPG ou Literatura abordando um tema específico. Nessa semana falamos com o Vinicius Peres, criador do jogo Orbe de Libra, sobre o processo dele de criação e adaptação de cenários de RPG. Já que o Orbe de Libra se trata de uma adaptação do contexto brasileiro com uma pegada medieval. E a seguir estão as perguntas da nossa conversa.
1 – Como você teve a ideia do Orbe de Libra?
Sempre fui apaixonado por fantasia medieval, desde literaturas fantásticas, contextos históricos, cinema, animações, etc. O clima e a atmosfera do heroísmo, misturado a lendas, mitos e retratações de determinados períodos (aqui deixo um apontamento sobre anacronismos normalmente presentes nessas obras, principalmente ligadas ao RPG), sempre me atraíram bastante.
Mas sentia uma enorme lacuna nesse contexto, pois basicamente todo produto em torno dessa proposta era uma versão da Europa. E somente isso.
Adoro a fantasia medieval clássica, mas sempre acreditei que a história, cultura e características brasileiras poderiam dar um toque especial e adicional ao costumeiramente visto.
E então, no início de 2016, nasce Orbe de Libra, um RPG de fantasia medieval, recheado de suas mais clássicas características, mas com sua estrutura principal baseada na mitologia, folclore, povos, sociopolítica e estética ligados ao Brasil.
2 – Pra você qual foi a maior dificuldade com o projeto: criar o cenário? Ou adaptar o contexto brasileiro?
Embora Orbe de Libra retrate inúmeros referências históricas, não é uma pesquisa acadêmica sobre o Brasil e tampouco uma alegoria ao mesmo (pelo menos não na imensa maioria dos pontos abordados).
Trata-se de um mundo fantástico original com seus alicercers e conceitos ligados ao Brasil.
Dito isto, tomei bastante cuidado para que a mensagem e proposta não fossem confundidas pela comunidade. Retratrar uma atmosfera que emanasse brasilidade sem que fosse especificamente uma visão real do Brasil. Apresentar povos análogos aos pré-colombianos sem que o fossem de fato, regionalismos típicos com toques originais, passagens históricas e movimentos políticos/revolucionários adaptados (propondo a reflexão dos jogadores e mestres sobre variados assuntos e temas). Tudo isso dentro da proposta de uma fantasia medieval recheada de heroísmo, monstruosidades e etc. Esse foi o maior desafio, sem dúvidas.
3- Como se deu o teu processo criativo?
Basicamente uma junção de muita pesquisa em artigos acadêmicos, institutos e órgãos especializados e historiadores renomados com originalidade na abordagem fantástica.
Orbe de Libra não foge de alguns clichês mais clássicos apenas quando se aproxima do Brasil e suas raizes, mas também em vários outros pontos: A magia sacrificial do cenário apresenta uma proposta original, a não existência de deuses e como se desenvolvem os credos/religiões também, o fato do mundo ser evolucionista, e não criacionista, cria um conceito mais verossímil e deposita nos mortais o grande protagonismo no cenário (criando propositalmente uma série de ganchos políticos), novas abordagens visuais e comportamentais de raças (e criação de outras novas) e de classes (onde à partir de elementos genéricos possibilita-se evoluções originais e moduladas em personagens autênticos).
O processo de criação sempre foi pautado em desenvolver um produto que pudesse oferecer a oportunidade de fomentar novas possibilidades para a tão amada fantasia medieval clássica.
4- Quais eram as suas expectativas ao criar a Orbe de Libra?
As expectativas sempre foram claras: mostrar ao brasileiro o quão incrível, fantástico e divertido pode ser o Brasil. Transformar o que de temos de melhor (e de pior também) em material para entretenimento mas também para estimular o debate, a reflexão, o entendimento histórico, de curiosidades regionais e quebrar paradigmas muitas vezes amplamente difundidos por puro desconhecimento e preconceito.
Espero que os leitores de Orbe de Libra se aventurem em campanhas cheias de cordéis, garimpos, cerrados, pantanais e florestas imensas com tribos locais e seus costumes, enfrentando criaturas de nosso folclore e lendas, em interiores caipiras e metrópoles movimentadas, do queijo ao café e muito mais.
Embarquem conosco nessa aventura com gostinho de Brasil. Defendam o mundo de Libra!
Agradecemos ao Vinicius pela conversa e nos vemos em outro Papo de Sexta.